Araucarilândia, 1930

Frederico Carlos Hoehne (1882-1959), mineiro descendente de alemães, nasceu em área rural próxima a Juiz de Fora. Já na infância tomou gosto pela coleta, catalogação e estudo das plantas, especialmente as orquídeas. Dedicado explorador e pesquisador autodidata, com 25 anos foi nomeado jardineiro-chefe do Museu Nacional do Rio de Janeiro, então a maior instituição científica do país. Em 1928, estabelecido profissionalmente em São Paulo, empreendeu a jornada que deu origem ao Araucarilândia, publicado em 1930.

A expedição partiu de São Paulo e, de trem, passou por cidades do Paraná e de Santa Catarina. Hoehne observou nossas florestas e sua beleza, mas também a acelerada depredação, especialmente das matas de araucárias que ainda compunham destacadamente a paisagem. Ao analisar o que via com argumentos científicos e uma percepção particular da relação entre natureza e sociedade, Hoehne defendia que o meio ambiente desempenha papel importante na constituição da identidade nacional. Tal pensamento viria a fundar as bases do ambientalismo no Brasil.

Hoehne fez muitas viagens exploratórias pelo país, acompanhando inclusive o sertanista Cândido Rondon.
Sua obra, no entanto, é menos conhecida e mais inacessível do que os livros dos naturalistas estrangeiros que por aqui viajaram no século XIX. Corrigir esse descompasso foi um dos motivos para que o ambientalista curitibano José Álvaro da Silva Carneiro decidisse promover a reimpressão de Araucarilândia.

 

Araucarilândia, 2014

José Álvaro Carneiro ganhara de seu pai um exemplar original do livro de Hoehne (bibliófilos se encantam com o ex-líbris de Newton Carneiro que testemunha este presente, e que foi reproduzido no fac-símile). A publicação era duplamente preciosa: pelo valor histórico e pela raridade, pois já não podia ser encontrada nem mesmo em sebos e antiquários. Ciente dessa circunstância e desejando ampliar e democratizar o acesso à obra, o ambientalista curitibano reimprimiu Araucarilândia em edição fac-símile em 2014, por meio da Lei Rouanet.

A edição foi acompanhada de um texto introdutório, um verdadeiro livro dentro do livro em que José Álvaro conecta diversas obras e iniciativas ambientais — que vão de fins do século XIX até a primeira década do século XXI — ao pensamento de Hoehne e à triste constatação de suas previsões. Ao fazer isso o autor também homenageia defensores da natureza que seguiram os passos do botânico mineiro e que contribuíram para que a devastação não se alastrasse ainda mais.

Foi tamanho o sucesso desta edição que em menos de um ano seus 1.000 exemplares já estavam todos distribuídos. Foram várias as manifestações sobre a relevância da obra e os pedidos para uma nova reimpressão. Assim, quando se completam 90 anos de sua primeira publicação, Araucarilândia ganha uma terceira edição.

 

Araucarilândia, 2020

Essa terceira edição chega enriquecida pelo caderno Araucarilândia: 90 anos depois. Nele os especialistas Clóvis Ricardo Schrappe Borges e João Paulo Ribeiro Capobianco apresentam pontos de vista importantes sobre a trajetória de Hoehne e do ambientalismo brasileiro e sobre as potencialidades e desafios do presente.

Depois da reflexão proporcionada pelos textos, uma sessão de belíssimas fotografias de Zig Koch nos conduz por paisagens com araucárias que vão de São Paulo ao Rio Grande do Sul, permitindo-nos viajar em imagens enquanto não podemos nos deslocar fisicamente.

Porém, a demanda por um livro esgotado, ainda que importante, não é a única justificativa para que essa edição esteja sendo lançada agora.

O momento não poderia ser mais pertinente, infelizmente por más notícias. O ano ficará marcado como um dos mais trágicos para os biomas brasileiros, com incêndios na Amazônia e no Pantanal e uma das mais severas estiagens da história do Paraná. Também é um período extremamente difícil para a população, que como a de outras partes do mundo sofre com a pandemia de covid-19.

Reconhecer que tais problemas vêm de nossa relação com o meio ambiente é urgente, o que torna ainda mais importante a ampliação do acesso à obra de Hoehne e à sua mensagem. Para promover essa aproximação sem colocar em risco a segurança sanitária, o lançamento desta nova edição está sendo celebrado com recursos e atividades que intensificam a experiência sensorial de leitoras e leitores de todas as idades.

Para saber mais sobre a vida e o trabalho de Frederico Carlos Hoehne, consulte o artigo “Frederico Carlos Hoehne: a atualidade de um pioneiro no campo da proteção à natureza do Brasil”, de José Luiz de Andrade Franco e José Augusto Drummond.

Ficha técnica do projeto ARAUCARILÂNDIA 2020

  • Coordenação e organização

    José Álvaro da Silva Carneiro

Caderno
Araucarilândia: 90 anos depois

  • Textos

    Clóvis Ricardo Schrappe Borges
    João Paulo Ribeiro Capobianco

  • Fotografias

    Zig Koch

  • Ilustração da capa

    Homem-Pinheiro, de João Turin — versão tratada digitalmente de imagem criada pelo artista para capa da revista Illustração Paranaense, que circulou entre 1927 e 1930 (acervo da Família Lago)

  • Edição e revisão

    Adriana Tulio Baggio

  • Projeto gráfico

    Glauce Midori Nakamura

  • Site

    D-Lab

  • Textos do site

    Adriana Tulio Baggio